**"Não tenho a pretensão de que todas as pessoas que gosto, gostem de mim, nem que eu faça a falta que elas me fazem. O importante para mim é saber que eu, em algum momento, fui insubstituível, e que esse momento será inesquecível." Fernando Pessoa**

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Dar sentido ao sofrimento





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"Um rei tinha um vizir muito sábio, cujo sentido de justiça era muito apreciado pelo povo. Muita gente o procurava para lhe pedir conselhos que ele dava com bondade e bom senso. Um particularmente era fatídico, fosse qual fosse a situação: “Lembre-se de que pode ter sido para o seu bem!”

Um dia o rei teve um acidente e perdeu um dedo. Ficou extremamente infeliz com a situação e foi ver o seu vizir, amigo de longa data, confiante de obter ajuda. Indignado e triste com o sucedido, o rei contou ao vizir o acidente que tivera. O vizir escutou-o com bondade, disse-lhe algumas palavras de conforto e por fim acrescentou, como de costume: “Majestade, lembre-se de que pode ter sido para o seu bem.”

Essa era a ultima coisa que o rei queria ouvir. “O quê?! Depois de te ter contado o acidente de que fui vitima, tu ousas dizer-me uma coisa dessas? Estás a zombar de mim, ou perdeste o juízo?” E a sua fúria foi tão grande que mandou prender o vizir.

O tempo passou e, alguns meses depois, o rei foi a uma caçada com os seus criados. Durante a caçada, o grupo foi atacado por uma tribo de canibais que mataram os criados e capturaram o rei. Levaram-no para a aldeia e começaram a preparar o ritual de oferenda aos deuses. Quando a água do caldeirão já estava a ferver, trouxeram o rei. Ao prepará-lo para o sacrifício, descobriram que lhe faltava um dedo. Como não estava completo, não servia para o ritual e foi libertado.

A caminho do palácio, o rei não cabia em si de contente. “O meu amigo vizir é que tinha razão! Como é sábio e bondoso! Estou tão arrependido por tê-lo mandado prender! Que injustiça! Tenho de ir vê-lo e pedir-lhe perdão o quanto antes.”

Logo que pôde, o rei foi à prisão, entrou na cela do vizir, pegou-lhe nas mãos e disse-lhe efusivamente: “Meu bom amigo, sinto-me tão arrependido por te ter mandado prender! O meu ato é tão condenável! Não sei se alguma vez me perdoarás. Nem tu sabes como tinhas razão naquilo que me disseste!” E contou-lhe a história.

O vizir escutou-o com bondade e no fim disse: “Majestade, não se atormente, talvez tudo isso tenha sido para o meu bem!” O rei não queria acreditar nos seus ouvidos. “O quê?! Como é que depois de tudo o que passaste e da injustiça de que foste alvo ainda consegues achar que foi para o teu bem?”

“Majestade, repare bem: se eu não estivesse preso, teria ido à caçada consigo!”

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